terça-feira, 25 de janeiro de 2011

DANÇA DE RUA NOS FESTIVAIS


Percebo que com o passar dos anos quase tudo evolui.
A tecnologia é sem dúvida o grande exemplo de evolução. Lembro que na minha adolescência tinha um walkman, que era um treco gigantesco e amarelo, no qual podia ouvir as músicas gravadas em fita cassete. Algumas eu quebrei de tanto deixar cair no chão quando ia trocar o lado. Isso sem falar na qualidade do som que era precária, onde o ruído disputava com a música a minha atenção.
As bandas e cantores aprimoraram muito seus lançamentos musicais por conta das novas tecnologias, principalmente com os computadores que permitiram mixar ritmos, instrumentos, etc., gerando assim novos sons.
A única coisa que vejo seguir o caminho inverso nos festivais é a dança de rua ou street dance, hip hop (envolve outras coisas além da dança) e outras inúmeras denominações geradas quase que a cada semana.
Apesar de todas as denominações, pesquisas e teorias; não vi nada parecido, nem de longe, ao trabalho desenvolvido por Marcelo Cirino com o Grupo Dança de Rua do Brasil.
É claro que sou suspeito para falar disso, pois participei do grupo de 1994 a 1998. Mas quem acompanhou o trabalho do Grupo Dança de Rua do Brasil irá concordar com o meu relato.
Para participar dos festivais de dança, que na época não reconheciam a ‘’street dance’’ como modalidade de dança, Marcelo Cirino adaptou a dança de rua para o palco, inserindo um tema, figurinos, desenhos coreográficos e até piruetas, pois o grupo tinha que competir na modalidade jazz, a que mais se aproximada do estilo em questão.
Muitos copiaram e por falta de informação, assumiram o que o DRB fazia na época como dança de rua ou ‘’street dance’’. Alguns anos depois começaram a surgir os EPN’s (Entendidos de P.... Nenhuma) que descobriram algo que Marcelo Cirino e todo o grupo já sabia há muitos anos: que as coreografias do DRB eram adaptadas para um palco e que assim como todos os outros gêneros de dança nos festivais seguia certos padrões.
Iniciou-se então um movimento em busca das origens da dança de rua que acabou produzindo apresentações medonhas em que grupos chegaram a subir em palco de festival de dança para fazer uma roda de ‘’break’’, ignorando a presença do público.
A busca pelas origens é válida, mas tudo evolui. Marcelo Cirino já participava de rodas de break em 1982.
Outro movimento que surgiu no início dos anos 2000 foi o de apenas aprender as novas tendências com os norte-americanos (principalmente), fazer parecido e não acrescentar nada além do que eles determinarem. O mais engraçado é que isso é chamado de ‘’freestyle’’, ou seja, estilo livre, mas tem que fazer parecido. Ora a dança de rua é uma modalidade informal e que acaba se desenvolvendo de maneira diferente em cada lugar. Não aproveitar a criatividade do brasileiro, no que diz respeito, a ritmos, passos, adaptações é no mínimo estupidez.
E ainda existem aqueles que dizem assim: tome cuidado com o show! Como assim, pensei que estivesse me apresentando em um palco. É mais ou menos como se você falasse para quem dança sapateado: Cuidado com o barulho! Ou ainda Neymar jogue, mas não dê chapéu em ninguém!
Atualmente o que eu vejo nos festivais de dança é o seguinte panorama em relação à dança de rua: a maioria dos grupos se apresenta de maneira parecida, muitas vezes só percebo que mudou o grupo porque o locutor anunciou. Não há tema, figurino e as coreografias são maçantes.
Boa parte dos jurados, além de não ter formação alguma também nunca desenvolveu um trabalho coreográfico de destaque.
Convido a pesquisarem os vídeos antigos do DRB, que apesar das dificuldades da época, onde as músicas tinham que ser gravadas em fita cassete e os efeitos inseridos em uma única oportunidade com uma bateria eletrônica, ainda continuam surpreendentes.
O talento de Marcelo Cirino é tão superior ao dos outros que o que ele fazia em 1991, tem gente que não consegue fazer até hoje. E eu orgulhosamente me incluo nesses que não conseguem fazer até hoje.
Espero que os festivais de dança, principalmente o de Joinville, que é o maior do mundo, reconheçam a obra do Grupo Dança de Rua do Brasil e permita que as novas gerações tenham a oportunidade de apreciar pessoalmente.
Apenas para terminar quero dizer que tudo isso que escrevi é apenas a minha opinião e não tenho a intenção de gerar qualquer tipo de discussão ou ofender a qualquer pessoa.
César Augusto